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Não Sei Que Título Colocar | Pós Basecamp (42 São Paulo)

Leo Rapini

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Como eu disse nesse post há anos atrás (25 dias pra ser exato), nas últimas semanas eu participei do Basecamp da 42 São Paulo.

É essencial que você leia aquele o post primeiro. Pois caso contrário, você me achará louco de me inscrever nessa experiência sociopiscológica travestida de processo seletivo para uma escola de programação. Experiência essa que eu, voluntariamente, com plena funções mentais, participei e participaria novamente.

ANTES

Por ser a primeira edição online da Piscina (processo seletivo presencial), eu não sabia muito bem o que esperar. Na verdade, nem mesmo o staff da 42 sabia o que esperar.

Eu já havia assistido alguns videos com depoimentos de quem havia feito a Piscina em outros lugares, e a única coisa que eu sabia era que ia ser muito, mas muito, mas MUITO puxado. Meu video favorito é desta garota Russa que documentou sua experiência na Piscina da 42 de Paris. Na primeira parte video você vê a empolgação dela antes do primeiro dia. Na segunda parte, que ela grava após voltar para casa, é visível o quão acabada ela está. Era só o primeiro dia. Lembrei muito dela nesses dias. É rir de chorar.

Como se preparar?

A resposta universal é de que não há como se preparar efetivamente para a Piscina/Basecamp. O que é uma verdade. Nada te prepara para uma guerra, por mais que você se prepare para ela. Dito isso, acredito que adquirir um conhecimento prévio em programação (mais especificamente em C) irá te ajudar a aproveitar mais a experiência. Entenda que não é um requisito, mas sim um algo a mais.

Eu me vi utilizando e compartilhando muitas coisas que havia aprendido no CS50x da Harvard. Se você está pensando em se inscrever para a próxima Piscina/Basecamp, recomendo dar uma olhada no curso.

No fim, você ainda vai ter que reaprender tudo, acredite. Porém, se você tem a possibilidade de aprender um pouco antes, por que não?

É um Processo Seletivo

Acho que antes de qualquer coisa é essencial lembrar que esse é um processo seletivo. E a inovação da 42 começa já aqui.

Como selecionar novos alunos? Toda escola, em especial as gratuitas, passam por esse desafio.

A 42 escolheu selecionar seus alunos, não baseado no seu conhecimento prévio, mas sim na sua capacidade de aprender, e acima de tudo, na sua resiliência. É claro que tem mais coisas, porém sem essa, as outras coisas não se sustentam. A resiliência é a pedra fundamental do processo seletivo da 42.

Isso faz total sentido. Não há como você aprender em uma escola sem professores se não tiver resiliência. Desistir é tão mais fácil do que continuar, ainda mais quando não há uma figura de autoridade te cobrando. E mais ainda quando você não precisa pagar nada por isso.

Resiliência não se aprende. Se descobre.

E eu descobri a minha durante o Basecamp.

DURANTE

Estou rindo sem saber como começar a escrever essa parte. É uma torrente de estímulos e memórias que dificultam colocar tudo em ordem. Vou tentar explicar através de uma analogia.

Imagine que você está em um lugar onde você nunca esteve antes, com pessoas que você não conhece, onde não há gravidade, portanto você não sabe o que é “em cima” e o que é “embaixo”, e onde tudo se move 7x mais rápido do que no mundo real.

Não entendeu? Bem, é isso mesmo. O Basecamp é se sentir perdido no meio do desconhecido. Intensamente. Do caos você precisa encontrar a sua ordem. Rápido.

O Basecamp é uma maratona dolorosamente prazerosa. É como fazer tatuagem. Dói, mas é bom. Mas dói.

Por Que? Como Assim? O Que Vocês Fazem Lá?

Desde o início, existe um mínimo necessário de informação que é compartilhada com o participante. Mas ninguém vai pegar na sua mão e te explicar como se registrar para um projeto, por exemplo.

Ninguém vai te explicar como fazer o seu primeiro git. O exercício só vai dizer: Submeta o seu trabalho, e o nome do arquivo que ele espera encontrar no seu repositório. Mas o que é git e repositório? Ótima pergunta. Descubra a resposta.

“Ótima pergunta, descubra a resposta” resume a recursão que é 42.*

Peer Learning

O peer learning é uma utopia deliciosa de se viver e valeria ser o tema de um post exclusivo. Vivenciar isso foi um dos motivos que me levaram a me inscrever na 42.

Resumidamente, o peer learning é quando você aprende com seus coleguinhas. Neste modelo não existe a figura do professor como dono do conhecimento. Ninguém é dono da verdade — ela é dona dela mesma — e por isso você deve sempre pesquisar, questionar e então guardar o conhecimento que merece ser guardado.

O conhecimento é construido através da troca, da leitura, dos videos, da pesquisa, dos testes, do ensinar, do fracassar, do sofrer e do sorrir. Não disse que é uma utopia deliciosa?

Mas e se eu aprender errado? Ótima pergunta. Descubra a resposta. Mas já dando um spoiler, você vai aprender errado e vai ensinar errado. Essa foi a dolorosa lição da minha primeira semana. Ensinei algumas coisas, que no fim estavam erradas, e prejudiquei alguns amigos queridos. Foi f*da.

Mas aí aprendi o certo, fui consolado pelos mesmos amigos, corrigi o meu erro, aprendi a questionar as minhas certezas, e parti para frente. Se na piscina, ao parar você se afoga, no basecamp você congela.

Sobre Amigos

Essa foi a parte do experimento sociológic, quer dizer, Basecamp, que mais me surpreendeu. E talvez seja a mais difícil de explicar também. Então para isso vou ter que ser bem honesto.

Eu não fui para o Basecamp para fazer amigos. Nada contra fazer amigos, muito pelo contrário. Mas é que eu já tenho amigos e não consigo nem dar atenção suficiente para eles. Meu foco estava em fazer o meu corre, e encontrar gente que não fosse babaca para andar ao meu lado. #sófaloverdades

Bem, meu plano foi por água abaixo antes mesmo de eu ser capaz de dizer “meu plano foi por água abaixo”.

Não há como participar do Basecamp sozinho, e “pessoas não babacas para andar ao lado” não são o suficiente. E é aí que entram essas pessoas maravilhosas que estampam a capa do post.

Foram eles que me ajudaram quando eu precisei, e quem eu ajudei quando pude. Não conhecia nenhum deles antes dessa experiência começar, e até hoje, só sigo dois deles no Instagram. Digo isso porque fazer amizade sem rede social é tão mais legal, e eu não lembrava que isso era possível.

No Basecamp não há tempo para discurso, para você publicar textão ou filosofar sobre as coisas. São suas ações e atitudes que mostram quem você é. E lá é só isso que importa. Vida real, mesmo que através da tela do computador.

Eles e ela mostraram isso para mim. Sou profundamente grato a eles, pois tenho certeza que sem eles eu não teria completado as três semanas.

DEPOIS

Depois da experiência resta ficar dando refresh inutilmente na página da intra da 42. Não que você espere encontrar alguma coisa lá, mas sim porque você viveu nessa página durante tanto tempo que não sabe mais como começar o dia sem entrar nela.

Ou então você pode tentar escrever um post no Medium falando sobre a experiência.

Mas já te adianto, você não vai saber qual título colocar.

Leo Rapini
Futuro cadete!!
@leorapini

PS: Não teria sido possível viver essa experiência fantástica se não fosse pela namorada mais incrível do universo. Obrigado do fundo do meu coração, Sam. Luv you ❤.

PS2: Eu omiti várias informações ao escrever esse post. Primeiro porque esse foi o primeiro Basecamp da história. Não sei quais ajustes o staff da 42 fará entre esse e o próximo, então achei que não valia a pena descrever tudo com detalhe. Vai ter vila? Vai ter outro nome? Sei lá. Segundo, eu acredito que não saber o que vai acontecer só torna a experiência mais rica. Sim, eu sei que parece coisa de seita. Mas não, não é.

PS3: Ou é?

PS4: Brincadeira.

PS5: O resultado sai dia 14/12/2020. Vou atualizar o post quando descobrir se passei ou não.

PS6: Passei!! Recebi o e-mail hoje às 11:42am. Já se passaram algumas horas, mas a ficha ainda não caiu. A felicidade (e as possibilidades) se misturam com a tristeza de saber que alguns amigos ali de cima não passaram. Essa é a parte f*da desse processo maluco. A entrega é intensa, e consequentemente, o baque da negativa também é. Mesmo que ela não seja a tua. Me sinto assim, agridoce.

*Douglas Hofstadter e Douglas Adams ficariam orgulhosos dessa frase.

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Leo Rapini

Fundador da www.raar.cc, Leo escreve no Medium os desafios da carreira artística profissional, tecnologia e outras aleatoriedades.